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Será que longe estremeces?

Será que longe estremeces Quando penso que te amo Que pensamentos tu teces Quando penso que te amo A meio de um dia qualquer Seja ele um dia feio ou belo Ouvirás meu coração bater Tão forte como um martelo O sol nasce e penso em ti Quando se espelha no mar Lembro-me dos sóis que vi Em teus braços a namorar Sabes no que penso agora Num dedilhar em que deito Frio meu amor cá para fora Cai para o iphone do peito Um telefonema sem razão Ou em mensagem de texto Palavras simples de paixão Sem motivo e sem pretexto Me liga vai não me deixes Aqui a pensar que te amo Pregando amor aos peixes Pensando que me engano Sei que amor não engana Mas sou homem imperfeito E esse teu silêncio é chama A que não quero ser sujeito

Na praia III

Sim, que foi? Nada. Quero só dar-te um beijo. Muitos. Todos os que quiseres. Beijou-a na boca, na face, no pescoço. Embrenhou-se nos cabelos dela. Tomou-lhe as medidas da cinta. Encaixou-a em si. Era a Aurora. Era mesmo ela. Como? Onde esteve? Onde está agora? Onde está a Sofia? Desculpou-se com as horas para dela se distanciar e foi para a cozinha. A sua cozinha. Onde estava a suite do hotel, onde estava o mar, para lá da janela? Estaria a sonhar? Teria sonhado. Mesmo depois de ter beijado a Aurora, ainda sentia o gosto da boca da Sofia nos cantos da sua boca; ainda tinha nos dedos o cheiro dela. Como é possível? Onde está? Sonha; sonhou; sonha que sonhou; sonha que sonha? Não compreendia; era tudo tão real. A praia, a Sofia, a noite juntos. E agora a Aurora, o seu quarto, a sua cozinha… dava em doido. Que fazer agora que Aurora o chama? Já sabe: está a dormir. Se transformar o sonho em pesadelo, acorda. Mas já é um pesadelo. Sim, mas se o pesadelo for mesmo mau, ameaçando a sua vida,

Na praia II

A lâmina estava gasta e abespinhava-lhe a pele. Raspava, raspava; arrancava mais do que cortava. Só lá para o terceiro corte, vendo o sangue pingar no lavatório, é que percebeu que não tinha que aturar aquilo, que tinha outras lâminas, novas em folha, guardadas na gaveta. Olhava-se ao espelho e via alguém que conhecia de vista. Não sentiu o álcool do aftershave atirado para o rosto senão como a campainha que toca na casa do vizinho de cima. Continuou absorto, distante, estranhamente desconfiado, até a ouvir vestir-se no quarto. Eram apenas sons desconexos, uma gaveta que batia, a porta do guarda fatos que rangia, a cruzeta atirada para a cama que caía em cima das outras, as meias subindo pelas pernas que rugiam suavemente. Meias; no verão? Acelerou-se o coração, esvaneceu-se o sono; limpou a cara, perfumou-se e vestiu a camisa. Camisa; como camisa, se estava de férias? Deu pouca importância à picuinha e dirigiu-se ao quarto. Ao vê-la, estarrecido, chamou-a surpreso: Aurora?

Na praia I

O sol estava quente, a tostar. Deitado na esteira, esticado, braços ao longo do corpo, ligeiramente arqueados e com as palmas das mãos voltadas para cima, nada mais sentia que calor invadindo-lhe o corpo. Gotinhas de suor corriam da testa em direcção às orelhas e nelas empoçavam. Acrescentando à sensação de forno, como se voltasse ao ventre da mãe, havia aquele clarão vermelho alaranjado que lhe inundava os olhos fechados. Seria uma tragédia não fosse estar assim por vontade própria, espraiado num areal de sonho, com palmeiras ao longe, espaço à sua volta, aves marinhas sobrevoando-o que se deixavam adivinhar pela sombra fugaz que lançavam sobre si. E seria uma tragédia porque, sobretudo, não aguentaria ali estar não fosse o vento que docemente o arrefecia, como uma mãe que nos sopra a testa febril. O vento, morno e suave, não se lhe opunha, antes temperava o sol. Saturados pelo calor e pela cor, os sentidos esmoreciam. Pouco ouvia, ou pouco ligava ao que ouvia. Chegavam-lhe aos ouvido

O Urso de Pelúcia

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O Urso de Pelúcia vem em formato e-book Para o ler, basta fazer download no sítio lulu.com . Descansado: é gratuito.

No dia em que o artista morreu

Todos os dias conduzem à morte E todos os dias estendem a vida Prolongam-na para lá do expectável Arrastam-se penosamente iguais Se todos os dias são bons para morrer Então todos os dias são maus para viver Vivam todos os dias em que se vive Porque em qualquer outro se morre
Agora que aqui chegaste, que pedes para ti? Apenas aquilo que fiz por merecer. E isso é? A recompensa pelo sacrifício, pela dádiva, pela escusa ao fácil e ao cómodo. E fizeste tudo isso para..? Para tua glória e proveito, claro. Para mais nada? Também, e sobretudo, para minha salvação. E foi isso que te danou. Danado, eu? Porque te esqueceste que o filho também é o pai; que o que abraça também castiga; porque todo o bem que fizeste foi em razão de um grande egoísmo. Estou então, danado. Sim, estás danado. Tem a certeza? Se tenho a certeza(?) que raio de pergunta é essa? Eis o destino do homem que se ajoelhou para tocar o céu. Que deu a vida por um deus e um tempo maior. Que trazia permanente, no gesto e no rosto, a glória dos dias vindouros. Há pois, aqui, uma profunda e derradeira mensagem para a vida. Ai daqueles que a descurem.

sem título

Amo este rio imensamente e não sei que fez ele para que o ame assim tanto. Quando o vejo, cruzando-o pela ponte, vindo do sul, ou pelo ar, vindo de longe, ele cintando as cidades, fico feliz e relaxado. Estou em casa. Acho que nada se faz para se ser amado. É-se e pronto, amam-nos. Caso contrário, fosse necessário labor para se ser amado, que fiz eu então para ter o teu amor? Tal como o rio, que estava ali para ser amado, também eu subia a rua que tu descias. Tal como o rio, não me apercebi, e segui. Só mais tarde te vi como se todo o rio tivesse o teu reflexo. Como se tu fosses o rio. Rio que seguirei o resto dos meus dias.

O fim das férias

Sinto o cheiro da terra nas narinas Passa a tua alma dos olhos vitrinas Do tempo que fomos felizes à chuva Quando nossa boca sabia a pão e uva Na piscina caem sem parar gotinhas Memórias que já não são as minhas Caídas do tempo antes do despertar São histórias perdidas e por contar A luz dourada que por ela se estende Chega à palmeira que quase não bebe Tanta prata ao alcançar da tua mão Ao preço saldado de uma constipação Há quem mergulhe mas não eu que sou Aquele que prostrado no cadeirão ficou Sonhando ter uma piscina para mim Enamorado das férias chegadas ao fim

Este é o tempo comprido

Não dei por ter nascido Darei pela minha morte? Terei já morrido sem saber Ou estarei ainda por nascer Por vezes vivo perdido Outras vivo de pulso forte Sem medo ou cuidado no porvir Vendo as horas dos dias a fugir Este é o tempo comprido Tempo de labor e de corte É o melhor que podemos ter Livre para beijar e aprender Passa um cão: Vai florido Cai o menino: Falta de sorte Hayden manda. Obedeço À felicidade dou grande apreço Durmo um sono comprido Sinto-me cheio de sorte Quero fugir para qualquer lugar Não importa onde se contigo ficar Misturam-se passado e futuro Num presente inacabado Ter nada é como ter tudo O estar feliz é alcançado

Lá vão

Lá vai o chorão Chorando não ter um tostão Lá vai o zangado Achando estar tudo errado Passa rápido o azedo Porque tudo lhe mete medo Segue-o o moralista Colocado no topo da sua lista Fisga o mal intensionado Com que é preciso ter-se cuidado Afirma o sempre certo Nem sonha que nem está perto Ronca o mal humorado Sem ninguém a seu lado Vejo o sem vista Aparentado com o Batista Vai de punho em riste De figura demasiado triste Atrás o esclarecido Para quem tudo está perdido Começa o gozão Que não vale um tostão Acaba o falso Que acabará descalço Corre o stressado Corre para nenhum lado Observa o inteligente Desdenhando de toda a gente Vai ali o descontente Não encara ninguém de frente Atrás o extremista Que deu em ser bombista Tapa-se o púdico De pensamento sempre fálico Berra o engraçado Que deixa todos entediado Olha lá o bondoso Come a perna e dá o osso Curva-se o servil Fala manso mas pensa vil Abraça-te o amigo Fode-te o cu a boca o úmbigo Presta-se o prestável Enganando de forma tão

Dez mil candeeiros

Há dez mil candeeiros na tua rua E dez mil portas iguaizinhas à tua Dez mil vasos em soleiras poisados Oferecidos por dez mil namorados Uma rua onde tudo é tão parecido Que parece um só canteiro florido E em cada casa uma rosa vermelha Que por amor revela sua centelha Dez mil corações clamam seu amor Dez mil peitos projectam seu rubor Apenas um coração por mim chama Dos dez mil desponta o que me ama E eu longe de ti preso na escuridão Guio-me para a tua rua pelo clarão Dos dez mil candeeiros enamorados Candente aos dez mil apaixonados Se quando lá chego é tudo parecido Pelas dez mil casas não vou perdido Pois das dez mil centelhas da rua Nenhuma outra brilha como a tua É o doce perfume que de ti exala Que me guia sem razão ou fala É a tua centelha que sinto sem ver Que me conduz sem me perder E chegado a ti logo me esqueço Da dor e da escuridão que mereço Do mundo do tempo me desligo Só contigo meu farol meu abrigo

Tu fugiste e eu fiquei

Tu fugiste e eu fiquei No lugar onde te amei Parado te vi partir Descrente em te seguir Partiste de um amor Que perdeu o seu calor Deixaste um casco frio Meu corpo ficou vazio O que havia começado Num gosto a rebuçado Que lambíamos sorventes Com os lábios dormentes Que era apimentado É amargo congelado Que foi doce sabor É agora pena e dor Ó que dia tão triste O dia em que fugiste Que tolo sem saber Sonhava em te perder Foi sonho foi fantasia Sonhei que te perdia Vivi sonho acordado Sonho ter-te ao lado Do que sou contigo Um sonho de amigo Corpo que é só metade Rosto sem identidade Não fugiste que és eu E te dou o que é meu Tu te dás toda a mim Corpo unido sem fim Uma só alma que ama Um só corpo na cama Uma vida vivida a dois Que acabará. E depois?

Porque és tão mau para mim?

Disse Deus a Moisés: – Verás apenas a Terra Prometida, não a pisarás. Moisés retorquir a medo: – Senhor, levei vida casta e devota a Ti. Porque me castigais? Deus, impacientado, responde secamente: – Pega lá nas três tábuas e, ao chegares junto do meu povo, logo o saberás.

Gostaria de começar pequeno

Gostaria de começar pequeno Um pirilampo em meda de feno Brilhozinho verde no escuro A esperança vagando no futuro E depois crescia só um pouco O arregalar do olhar do louco A luz fortalecia e amarelava Deixando a meda iluminada Sinto-me agora com mais força Esboço pinotes qual ágil corça Não é pirilampo nem pequeno Vai na curva ascendente do seno Como todos tem figura de gente Mas nele há um brilho latente Que lhe escurece toda a figura E lhe rouba de vez a ternura Ainda assim não desiste ou vacila Prende a respiração e logo cintila Algo em mim começa a lampejar No corpo hirto em riste a flutuar Como carro engrenado fico instante Esperando o coice que me leve adiante É só a luz agora e não há mais figura Que se veja na luz perdida na negrura Pois que tudo à volta é escuridão E faz o rebrilhar soar a traição Intrometem-se as mãos ao olhar Protege-se da luz que quer evitar É então que fujo para diante Impondo luz amor aterrorizante Solta-se a luz por todo o lado Sobra o pirilampo vazio

Prejuízo do ego

Digo-o com prejuízo do ego Que me sinto um cruzetado Que me pareço com um prego Que de frente parece de lado

É o sopro do teu corpo quente

É o sopro do teu corpo quente Que sossega a minha alma doente É o teu olhar límpido que me diz Que afinal é bom ser feliz Que vontade de me perder No limbo da sedução Xutar indolência e beber Da vida com devassidão Que desejo de esquecer O humano que há em mim Cortar-me de quem me quer Partir numa fuga sem fim Esta imensa frustração De saber que o que ouço Só existe na imaginação Deixa-me exausto e louco Faz a vida saber a pouco Ouvir o que mais ninguém Ouve ou vê e mais só fico Com medo de contar a alguém Mas vêm as vozes e puxam E rasgam em mil pedaços Mas vens tu costureirinha E bordas os estilhaços Do coração que estava Partido do amor perdido Que longe se julgava Do teu abraço estendido Quero dar ouvidos Aos que me querem matar Quero abraçar os perdidos Que me farão descarrilar Quero deixar a vida Antes e nunca depois De haver a vida vivida E não me ter a dois Porque és tu e só tu Que de trilho faz avenida E levantas o jugo que eu Levo e que é a vida

Complicado é ser simples

Complicado é ser simples Difícil é seguir a via fácil Eliminar o que é adereço Concentrar-se no óbvio Esperar apenas amanhã Esperar sem parar hoje Esperar sem esperar Aguardar aguardando Tremenda a complicação de ser Um ser que se quer simples Ricamente despojado da riqueza Que empobrece a vida Empurrado a mais ter Impelido a conseguir Tudo que houver e ser Infeliz a cada conquista Fulano morreu - Não somos nada Param as horas e pensamos nas Coisas simples que perdemos Para logo as atirar para trás Porque me puxam e empurram Em tantas direcções sem rumo Se há só um que quero seguir Mesmo à frente e inacessível Porque esperam de mim Que seja mais que quero Porque olham para mim E vêem mais que sou Quererei tão pouco? Serei tão amorfo? Ou é a preguiça que Me abraça? Não me vejo daqui a dez Anos senão como agora Este que sou e está E dez anos mais velho

A História devida - Antena 1

No dia 22 de Março, domingo, o programa A História devida , da Antena 1, passou, sem grande alarido, O prego. Oiça aqui e baixe para o PC . Nota: Salta para a meia-hora de programa (logo após a canção do António Variações).

Lançamento do Manual do Suicida II

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É com o sentimento que reflecte a foto que agradeço a todos quantos estiveram comigo. Até ao próximo. p az.

Lançamento do Manual do Suicida

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Convite A edium editores convida-o a estar presente no lançamento do livro Manual do Suicida , de Pedro Azevedo , no Sábado, dia 14 de Março , às 21h00, no bar Casa do Livro , Rua Galeria de Paris, 85 – Porto (aos Clérigos). Apresentado por Marta Martins . Leituras de Vitória e João. Porto de honra por cortesia de Porto Ferreira. Contamos com a sua presença.

O boi

Aquela manhã era o prolongamento do sonho da noite. Mal tinha começado e já estava bem desperto e cheio de fome, atravessando os campos entre a minha casa e a casa dos meus avós, antecipando o pequeno almoço. Uma espessa névoa repousava sobre os campos, mística, densa, permitindo ao sol apenas uma réstia da sua grandeza, um começo humilde para, mais tarde, se tornar ingente. Das hortaliças pingavam gotas de água em camarinhas. A vinha, ao fundo, coberta de gotas, quase cintilava. Do lado oposto, os limoeiros e as laranjeiras tilintavam num gotejar incessante da água que se desprendia das folhas e caía no chão fresco ou rolava pelos frutos ao encontro de mais água. Onde a torrentezinha se adensava, pequenas poças se formavam, acolhendo gotas e mais gotas. Os meus passos chapinhavam pelo carreiro ensopado. Nada via para além de mim. Apenas adivinhava as hortaliças, a vinha ainda sem frutos, os limoeiros carregados à força de sábia paulada da mãe e as laranjeiras carregadas graças à poda

O prego

Durante algum tempo, conservei um prego. Um prego de galeota. Um prego para madeira  Um pouco maior que uma mão travessa. Um prego grande, para madeira. Usado na construção civil. Os trolhas, e demais artistas, da argamassa e do piropo, usam-no para suster cofragem, montar andaimes, fixar barrotes, improvisar bancos para o almoço, abrir a mine e para o mais que possa um prego ser chamado: vazar um pé; cravar-se num traseiro; furar o pneu ao mercedes do pato bravo; impressionar, pela negativa, a dona da obra, que acha que só com aqueles preguinhos não se vai segurar a moradia; servir de ponteira para riscar azulejos e tijoleiras e mais que não recordo, mas que, perguntando a um trolha, a um pedreiro ou a um servente, muitos outros usos lhe acharão. Já eu não lhe dava qualquer um desses usos. Tão pouco o usava para riscar coisas como carros ou vidros, não o usava para tirar o serôdio das orelhas ou a côdea das unhas. Conservava-o. Só isso. Andava com ele na mão, como que espetado, entre