O sol estava quente, a tostar. Deitado na esteira, esticado, braços ao longo do corpo, ligeiramente arqueados e com as palmas das mãos voltadas para cima, nada mais sentia que calor invadindo-lhe o corpo. Gotinhas de suor corriam da testa em direcção às orelhas e nelas empoçavam. Acrescentando à sensação de forno, como se voltasse ao ventre da mãe, havia aquele clarão vermelho alaranjado que lhe inundava os olhos fechados. Seria uma tragédia não fosse estar assim por vontade própria, espraiado num areal de sonho, com palmeiras ao longe, espaço à sua volta, aves marinhas sobrevoando-o que se deixavam adivinhar pela sombra fugaz que lançavam sobre si. E seria uma tragédia porque, sobretudo, não aguentaria ali estar não fosse o vento que docemente o arrefecia, como uma mãe que nos sopra a testa febril. O vento, morno e suave, não se lhe opunha, antes temperava o sol. Saturados pelo calor e pela cor, os sentidos esmoreciam. Pouco ouvia, ou pouco ligava ao que ouvia. Chegavam-lhe aos ouvido