Se as festas fossem boas, Saramago veria seu delírio concretizado. Se as festas fossem felizes, não haveria Natal dos hospitais. Se o Natal fosse bom, não haveria jantar de Natal dos sem abrigo. Se o Natal fosse feliz, não haveria campanhas de Natal solidário, onde animais com ar parvalhão nos impingem cachecóis, livros ou CD's. Ainda assim insistimos em desejar a todos um bom Natal, a todos festas felizes, seja amigo ou conhecido, estranho vizinho, empregado de café, parceiro de autocarro. Deseja-se bom Natal entre passas de um cigarro. Tenha um bom Natal, diz para não ficar mal. Para não ser deselegante. Parece sentido mas com a face é dissonante. E se sabe de alguém a quem outro faleceu, pergunta de forma leviana: que Natal será o seu? O dele, do outro, a quem falta agora um pedaço, pois que ele di-lo com os filhos no regaço e a mulher na cozinha, vergada a espinha; enterrada em rabanadas e panelas a fumegar. Despacha-te que o Pai Natal está a chegar. Chega o tipo e é uma fraude