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A mostrar mensagens de setembro, 2017

A Folha Branca

Lembro-me que, ainda rapazola, escrevia em papel. Então, as alternativas eram poucas. Ao papel e caneta tínhamos, papel e lápis, papel e máquina de escrever (mas não para todos) ou papel e pincéis (igualmente impraticável). Podíamos ser criativos e deixar registo nas paredes (de casa e/ou da rua), na areia do mar, nos guardanapos dos cafés (que no fim de contas é papel) ou simplesmente no vento que nos envolvia numa manhã fria ou nos temperava numa tarde quente. Quero dizer que, rapazola, tinha apenas papel para grafar a dor e a inconformidade da juventude. Não gostava de escrever nas paredes e nunca consegui apanhar as palavras que escrevia no vento. E nesses tempos, essas coisas dos PC's e tablets não tinham sequer atingido o patamar de sonhos. Como tal, e quando faltava a inspiração, culpava-se a folha branca, essa súcubo da prosa. Com efeito, a alva aridez da folha A4 era o terror do escritor e a sua melhor desculpa para não escrever. O vazio da inerte criatura, projetava-se