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A mostrar mensagens de março, 2011

Haverá lições a reter da vida? Pode aprender-se com o passado? Quem são os que olham para trás e temperam decisões com memórias? –5–

Não era uma estação de serviço. Era uma sala, sem paredes, que potentes mas invisíveis fontes luminosas recortavam do resto, que era a noite, como tal nada ou tudo, ocupada com secretárias dispostas em forma de ilha, formando grupos de oito postos de trabalho por cada ilha. Estas por seu turno estavam dispostas em quatro colunas que começavam logo na berma da estrada e se prolongavam noite a dentro aparentemente sem fim. Havia num dos lados, por cada quatro filas de ilhas, fazendo as contas, dezasseis ilhas e 128 postos de trabalho, três portas; portas apenas, sem paredes que lhes dessem firmeza ou propósito. Duas seriam casas de banho, separadas de acordo com o género; uma terceira com o nome de alguém gravado no vidro do painel superior. Ao contrário da estação de serviço, aqui havia bulício. Gente matraqueava os teclados dos computadores que dominavam cada secretária; tocavam telefones e pessoas falavam por eles de forma ora elegante e pausada, entremeando o discurso com sorrisos e

Haverá lições a reter da vida? Pode aprender-se com o passado? Quem são os que olham para trás e temperam decisões com memórias? –4–

De volta à estrada, à noite e ao nevoeiro, calcorreava de novo o separador central. Andando absorto, pensava em como se manar, em como se baldar. Não será a vontade de se manar própria contradição, pois que manar a vontade é verte-la para que se se evapore, se extinga; ou, se não se extinguir, deixa pelo menos de nos pertencer para se tornar fazenda de outrem. E baldar; é preciso querer baldar-se. Baldar-se é uma entre várias opções. Aquele é baldas: porquê? não sabe mais?; não: apenas é sua vontade ser baldas. Percebia, se bem que de forma difusa e por ora incapaz de expor em discurso que o caminho que sentia já ser o seu dever seguir, acarretava, talvez mais do que qualquer outro, ponderada decisão e grande dose do coragem. O que mais do que aparentava ser contraditório com o propósito. Isto é, se o fim era o de abandonar-se, já a decisão de o fazer nada tinha de abandono ou casualidade. De modo que temia não poder seguir o conselho do pequeno homem por duas razões: a primeira porque

Haverá lições a reter da vida?
 Pode aprender-se com o passado?
 Quem são os que olham para trás e temperam decisões com memórias? -3-

A estação de serviço estava deserta. Nem carros, nem camiões a abastecer ou estacionados; apenas um gingle soprava pelos altifalantes colocados no alto das colunas que sustinham a cobertura das bombas desfazia a noção de que se tratava de um posto abandonado. A porta estava aberta, o que é estranho; pois o que seria de esperar seria um funcionário com cara de sono/medo/fastio (riscar o que não interessa) atras de um vidro à prova de bala, interagindo com os clientes por um postigo ou gaveta de vaivém. Não havia clientes, tão pouco bandidos ou ladrões, o que não é a mesma coisa. Na loja, coisas de loja, das que se vendem, das que expõem as que se vendem, máquinas que aquecem ou arrefecem as coisas que se vendem quentes ou frias e, ao balcão, melhor, no balcão, um homem muito pequeno com um fraque velho, cartola e guarda-chuva. Quando digo pequeno, não digo pequenito como um menino, digo aí com um palmo, vinte e cinco centímetros, no máximo. Tens um telefone? Para que queres tu um telefo

Haverá lições a reter da vida? Pode aprender-se com o passado? Quem são os que olham para trás e temperam decisões com memórias? –2–

——Não te esqueças de começar pelo número 1; se já o leste ou tens preguiça, podes seguir lendo o número 2—— Desviou-se na direcção da nova estrada, andou uns metros até perceber que o clarão que vira da estrada principal se desvanecia a cada passo, perdendo dimensão à medida que ganhava nitidez, para se revelar nada mais que uma luzinha num nicho dedicado a Nossa Senhora. Deixou esmola, que está escuro e nunca se sabe e retrocedeu, tomando, de novo, o caminho da estrada. Na estrada principal, como seria de esperar, seguiu pela berma da esquerda. Estava na berma da esquerda. Não precisou decidir, a decisão apresentou-se-lhe como um facto evidente ou uma dedução lógica imediata, colocando-o numa das bermas sem arbítrio e sem esforço. Imaginava-se tranquilo, deslocando-se por entre a noite e o nevoeiro, livre do jugo da escolha, quando deu conta que não estava descansado, não caminhava em paz e de mente vazia como acharia que poderia fazer. Porque não fez uma escolha? Porque nem sequer co

Haverá lições a reter da vida? Pode aprender-se com o passado? Quem são os que olham para trás e temperam decisões com memórias? –1–

Dava passos muito largos pela estrada fora. Era noite, estava frio e o nevoeiro espesso envolvia-o de frio e incerteza. Seguia a direito, pelo meio da estrada, incapaz de se decidir por qualquer das bermas. Qual delas a mais acolhedora? Eram bermas largas, sinalizadas por traços brancos, alvos, sinal inequívoco de terem sido pintados recentemente. Tinham a bordejá-las rails com resguardos nos pilares, exigência de quem se desloca de moto e teima em cair ao mínimo excesso de velocidade. Talvez não os que caíram, mas os outros, os que ainda não caíram e temem o dia. Não conseguia decidir-se por que berma a seguir. Se uma era boa, a outra também o era. Se uma era mais curta nas curvas para a esquerda, a outra era mais curta nas curvas para a direita. E parecia-lhe que havia tantas curvas para a esquerda como para a direita. De momento, nenhuma; mas por certo curvas haveria para lá da recta e do nevoeiro. Se numa toda a gravilha foi limpa, igual labor se teve com a outra. Se uma era asfalt

Oups!

Tenho andado calado, eu sei. Mas calma. Notícias para breve.