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Passa um homem…

Passa um homem que julgo conhecer bem sem saber bem quem é. É alto o suficiente para o seu olhar estar acima de quase todos os olhares; mas não tão alto o suficiente para ser o mais alto. Talvez não haja o mais alto pois que, na verdade, apenas um poderá dizer: sou o mais alto. E, mesmo assim, poderá não ter disso conhecimento, impedindo-o de reclamar tão galardão. Havendo ou não um mais alto que todos os outros, esse um, não era ele. Era alto o bastante para que se sentisse acima dos demais, mas não tanto que, de forma cada vez mais frequente, alguém mais alto que ele passasse por si e o lembrasse que os havia mais altos e que para esses gigantes, ele estaria entre os mais baixos da Terra. Era magro; era. E aí, a latitude de conceito estava bem mais diminuída. Era magro, ponto final; e alto, ponto final. Não era bonito, mas também não era feio. Poderia até dizer-se que não assustava ninguém. Talvez assustasse uma criança estranhona. Mas essas, tudo assusta. Tudo menos as boas mães,

Partia de um pensamento vazio

Partia de um pensamento vazio, para um universo cheio de nada Num café decorado a frio, meio de clientes de expressão velada Tomaria o autocarro ou a nave espacial? partiria pelo seu pé Por entre ruas e estrelas; fenomenal! viagem de procura da fé Assalta a dúvida a cada esquina, para lá ou por aqui? Ainda me lembro dela tão pequenina, papá: chichi E ele mais crescido por dentro, mas por fora sempre menino Solta tantas palavras ao vento, para mudar o mundo viperino São tantos os sóis e tantas as luas que nos cruzam o olhar Tantos os passos por tantas ruas que me canso de andar E lá ao fundo ela aparece, em lampejos de Diana e Atena Um farol no mundo que guarnece o reino da fantasia plena

A Folha Branca

Lembro-me que, ainda rapazola, escrevia em papel. Então, as alternativas eram poucas. Ao papel e caneta tínhamos, papel e lápis, papel e máquina de escrever (mas não para todos) ou papel e pincéis (igualmente impraticável). Podíamos ser criativos e deixar registo nas paredes (de casa e/ou da rua), na areia do mar, nos guardanapos dos cafés (que no fim de contas é papel) ou simplesmente no vento que nos envolvia numa manhã fria ou nos temperava numa tarde quente. Quero dizer que, rapazola, tinha apenas papel para grafar a dor e a inconformidade da juventude. Não gostava de escrever nas paredes e nunca consegui apanhar as palavras que escrevia no vento. E nesses tempos, essas coisas dos PC's e tablets não tinham sequer atingido o patamar de sonhos. Como tal, e quando faltava a inspiração, culpava-se a folha branca, essa súcubo da prosa. Com efeito, a alva aridez da folha A4 era o terror do escritor e a sua melhor desculpa para não escrever. O vazio da inerte criatura, projetava-se

Transformação

Então diz-me lá; consegues transformar-te no que quiseres? Sim , consigo; mas com uma restrição importante. Qualquer coisa? Qualquer coisa, não; qualquer ser vivo; mas, como já te disse, com uma restrição importante. Pois , se te transformasses numa cómoda, iria ser difícil teres força de vontade para voltares à tua agradável pessoa. Sim , seria complicado. Posso pedir-te que te transformes nalguma coisa? Podes . Ok ; transforma-te numa borboleta; daquelas grandes, de um azul iridiscente. Aí é que está; em borboleta não posso. Mas disseste que te podias transformar em qualquer coisa. Sim , e posso; mas é aqui que entra a restrição importante; deves previamente compreender que a minha transformação é feita ao nível molecular; ou seja, não se trata de uma metamorfose ou uma habilidade de um qualquer extraterrestre dos filmes de ficção científica. Então ? A minha transformação implica uma reorganização integral de todas as moléculas do meu organismo; o que quer dizer, para responde