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A mostrar mensagens de junho, 2010

A razão da escrita

Foram as correntes privadas de candelabros que pendiam das abóbadas do convento de Mafra que me fizeram escritor. Não foi a escrita dura sobre gente dura em Levantado do Chão, nem o humor velado, quase inglês, d'O Evangelho Segundo Jesus Cristo e de Caim, nem os amores de Blimunda e Baltazar, nem as almas que recolhiam. O que me fez escritor foi a janela que Saramago abriu em mim e me deixou ver aquelas correntes baloiçando, animadas por mãos criminosas, perdidas no silêncio do Templo, dizendo aos frades estremunhados: " foi por pouco, foi por pouco ". Sem desrespeito pelos que sentem a perda do marido, do pai, do amigo, eu que não o conhecia senão pelo seu legado, não sinto pena nem dó. Rejubilo por saber que se extinguiu um homem que não viveu em vão. Este homem marcou, faz diferença no mundo; faz rir, faz chorar, despertou consciências, paixões e ódios; por ele e contra ele se lutou e luta. A morte é irrelevante à sua vida. Saramago vive.

Coisas há que a escola nunca ensinará

Nem deve. Contava-me um amigo que quando um caçador incapacita uma presa e um segundo caçador a mata, este entrega a presa ao que primeiro disparou, recebendo dele um cartucho. Este acto de cortesia um de muitos do código de conduta da caça, não poderá nunca ser ensinado na escola. Em primeiro lugar, por razoes óbvias. Embora para alguns fosse motivo de gáudio, o manejo e emprego de armas de fogo em recinto escolar, tal medida faria torcer o nariz, o bigode e demais pêlos, a muitos pais e educadores. Em segundo lugar, porque estas coisas são para passar de pai para filho, de avô para neto. São aprendizagens pelo exemplo, em que palavra alguma é trocada, explicação alguma é fornecida, onde a razão do costume é cabalmente explicada pelo bom senso, pela educação e pelo respeito pelos outros. Desprezo a caça desportiva, mas vejo neste e noutros preceitos que a cultura de contratualização de serviços esqueceu, importantes alertas: entregar à escola a educação dos nossos filhos é, ao não lhe