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A mostrar mensagens de outubro, 2019

Acabou!

Ok, acabou. Continua aqui .

Coração

– Que sente? – Nada. E na verdade, tudo. É uma sensação de desconforto tão ligeira que é como se todo o ar do mundo me caísse em cima. – Anseia? – Por nada especial. Por ser pai; por ser homem. As ânsias exigidas aos pais e aos homens, creio. Tão longe fico nesta dor, e tão só, como só os que se abeiram da morte ficam. Tão perto da condição última da vida me sinto que apenas me faz desejá-la. – Teme? – Deveria temer. Mas não consigo. Deveria ficar temente desta dor mas apenas adormeço nela. À medida que me embala, nos arremessos da sua intensidade, esquecido nesta sala dita asséptica, entre dor, cansaço e a um trabalho indiferente à dor e ao cansaço, encontro tempo e justificação para o ócio, o devaneio e o fluir livre do pensamento. O peito dói, os dentes doem. O homem sente a liberdade.

Cacofonia

Uma cacofonia enche-me os ouvidos como água de uma piscina onde um sol abrasador me força a mergulhar e dela sou impedido de sair por um vento cortante. São vozes de mulheres e homens, de coisas que passam e cães que, de ladradores, ladram, estrepitosas umas, basais outras, ora em confronto ora em conluio; são vozes de si sobre si, raramente vozes de outros. Diz o tato, em voz de tato, que ‘…ela dite atim…’, e lamentavelmente levo a mão à boca para não a soltar, e tapo o nariz para não o fungar. Lamento o tato e o seu interlocutor feio, atrás de uns óculos lamentavelmente feios, e lamento não ser o tato, timples na tua timpliticade tátil de palato impedido e livre de ser, sem compromisso filosófico, nem censura intelectual. Desprezo-me por saber que os €49,50 da mistela em boião, ou pó, ou pasta solúvel não me permitirão emagrecer; censuro-me por perceber que a vizinha é má porque eu sou mau para ela; castigo-me emocionalmente por ter por certo que se aquele enganou os irmãos nas part