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A mostrar mensagens de outubro, 2007

O homem da sala das raridades

Lembro-me de uma fugaz passagem pela corte do Rei Sol. E desse tempo embrenhado em futilidade e maquinação como nunca antes havia visto, recordo um episódio de descoberta e espanto. A corte de Luís XIV era, entre muitas outras coisas, abrangente. Nela podíamos encontrar toda a sorte de vilania e bajulação; nobres ricos e poderosos e nobres tão desgraçados como o bretão que lhes segurava o balde da urina não fosse o título herdado e que, vai lá saber porquê, lhe clareava a pele, exacerbando as veias azuis, o sangue azul, e o meu desejo de o sugar. Aliás, só me alimentava da nobreza. Encontrava nas donzelas alvas deleites raros na minha condição: apertava-as contra o meu corpo frio, voltava-as e espremia-lhes os seios pequenos, ou grandes. Acariciava-lhes o ventre, o rego do peito, as omoplatas e, perto do êxtase, cravava-lhes os dentes. Gemiam ao sentir a mordida para se arrepiarem e desesperam tarde de mais. Na corte do Rei havia também uma cornucópia de artistas, músicos, bailarinos,