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A mostrar mensagens de setembro, 2007

Como avaliar?

Tenho cada vez mais dificuldade em avaliar as acções dos humanos. Poderá a grandeza da tarefa ser medida em função exclusiva do mérito do agente? Poderá este agigantar-se apenas porque fez algo grandioso? Deverá julgar-se o agente pelo impacto que criou por via da acção que empreendeu? Onde está o valor, a bravura, o esforço? Como será acolhida a promessa da fartura aos famintos? Que adesão terá a promessa de derrube dos poderosos perante os oprimidos? Que obstáculos encontrará o que incita a melhores condições de vida dos excluídos? Que valor terá o agente que impele os chaguentos a exigirem cura? Que quê a mais tem o pai que ama os filhos? Onde está a coragem do que trabalha e contribui? Que extraordinário há em mudar o mundo, quando este pede para ser mudado? Que glória há nos que dão aos que precisam? Como separar o heroísmo do egoísmo? 
Como separar o sacrifício do egoísmo? Quem é afinal louco? 
Quem é afinal valoroso?

O homem de metal

Havia um homem que corria a cidade de Bíblia na mão. Era velho, sujo, desgrenhado, irascível com os transeuntes, falava alto e de forma inconveniente, cheirava mal quando, no inverno, a chuva lhe ensopava o corpo e cheirava mal quando, no verão, o sol lhe sobreaquecia a ossatura. Ninguém o queria por perto, as crianças e as mulheres, as menos afoitas, fugiam dele; as mais rijas e os homens mais machos ofereciam-lhe porrada; os mais maricôncios mudavam de passeio ou alargavam o passo para o despistar; eu, adorava-o. Por causa dele e porque tinha o péssimo hábito de se embebedar pela maré do chá e apagar a um canto durante a noite toda, obrigou-me a algo, que não me matando, não me agrada nada e que é andar por aí durante o dia. Seguia-o discretamente para que não estranhasse ele, nem estranhassem outros que tamanho vagabundo fosse alvo de cerrada perseguição. Por várias vezes tentei falar com ele na rua, sob esta ou aquela forma, para que não percebesse, mas só levava com acenos de Bíbl

A santa

Há uns anos, já não sei bem há quantos mas poucos, li num jornal que para os lados de Gondomar, Portugal, havia uma rapariga que não comia. Dizia o jornal: Jovem Gondomarense foi abençoada com aparição de Nossa Senhora há cinco anos, logo acamou e alimentando exclusivamente desde então de preces próprias e alheiras. Sou um ser antigo com um espírito vagante, pois apenas assim consigo manter-me em contacto com as sociedades dos humanos procurando delas as considerações vigentes sobre os valores humanos fundamentais, buscando, aprendendo, usufruindo. Este espírito humano que procuro captar, inquisitivo e insatisfeito, mas também preguiçoso e sub-reptício é, ao mesmo tempo, para mim, fonte abundante de aprendizagem e cornucópia de problemas. Foi munido de atitudes cientifica e turística, mas também de pé atras, que visitei a santinha. Ainda que falsa, a notícia da possibilidade de alguém que está há cinco anos sem comer, ainda que só beba, é de extraordinária importância para mim e para o