Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2013

Gostava

Gostava de chorar de maneira glamorosa sem olhos vermelhos, nem ranho no nariz, nem olheiras. Apenas duas lágrimas brilhantes deslizando pelo rosto, morrendo nos cantos da boca sorridente. Gostava de caminhar pela areia virgem da praia de inverno sem a perturbar e gostava de passar por entre as gaivotas junto ao mar sem as perturbar e ter em mim nada mais que o som das ondas para me embalar. Gostava de tocar a face das mulheres e dizer que são bonitas sem as preocupar. Gostava de ir à boleia de um surfista sem me molhar. Gostava que o céu se abrisse e chovesse sem parar. Gostava que o vento me empurrasse sem me derrubar. Gostava de ver o meu corpo feito barco a navegar. Gostava que o meu coração ficasse neste lugar.

SOL

E o Sol fala de?… Muito poucos são aqueles que vejo nascer. Quase todos nascem debaixo de telha. Quando não estou a ver, mas está ela, aquela que namoro há milénios num bailado incessante, também quase todos nascem debaixo de telha. Só os mais desprevenidos, os mais apressados ou os mais expostos dos expostos, eu vejo nascer. Dado que poucos são os que vejo nascer, tu, um bem nascido, não foste excepção: não te vi nascer. Apenas algumas semanas depois de nasceres e te assumires como indivíduo te vi pela primeira vez, e tu me viste a mim no que seria mais uma primeira vez de muitas primeiras vezes. Logo gostei de ti e imaginei, ao iluminar-te a face que, um dia, dedicarias a tua vida a fazer com que também eu nascesse, renascendo sobre uma nova luz. Uma luz que abriria portas, que forjaria lutas, que anteveria conquistas. Uma luz que no teu crepúsculo se recusava a esmorecer, mesmo perante o que parecia o recuar em toda a linha da tua vontade ao direito de todos dizerem: “–Ele nasceu p