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A mostrar mensagens de outubro, 2013

Triste é o poeta por se confinar ao homem

Triste é o poeta por se confinar ao homem. Preso está o homem por ter em si um poeta. Que te encaram, homem e poeta, com diferentes olhos. Uns para olhar e outros para te ver, Uns para te querer e outros para te tomar, Ambos para dizer que te amam. Com beijos nos calas, com abraços baixas nossos braços. O teu amor mata-nos, faz-nos esquecer de nós. És o doce jugo que plácidos envergamos. És o macio cajado que meigamente nos impele. És a rutilante argola, que nos guia da confortante solidão. Pois é o teu amor que nos mantém vivos. De ti, em ti, por ti. Só tu, pelo nosso amor, és o esteio da razão. Farol brilhante, Aquecendo os frios penedos, Iluminando as ondas, Relevando os escolhos, Desvelando os sentimentos mais profundos. Quando longe de ti estamos, E somos apenas homem e poeta, É em ti que pensamos, É por ti que a vida se completa.

Hoje acordei com vontade de me levantar

Ao sentir-me desperto, Acelerado pela luz que em mim entrava vinda da janela cuja persiana ficou em enrolado esquecimento, Cresceu em mim uma vontade tumescente que me impelia para longe daquela doçura que é o conforto absoluto de uma cama dormidinha, Onde a noite termina com um resignado regresso à vida. Agarrei-me a ela e para ela me voltei, Mas ela já lá não estava, Desaparecida, Deixou fria, A sua alma levantada. Frios estavam também os lençóis do lado dela, E frio estava o saldo da sua cabeça na almofada, Voltei-me de barriga para o ar e olhei a janela, Desanimado com a perspectiva de a perder para sempre: o seu sorriso; os seus beijos; os seus abraços; a nossa vida partilhada. Restava-me a vontade, De me levantar. Queria saber as horas, Saber qual a extensão numérica do desvio ao ritmo habitual, Hábitos analíticos enraizados na mais poética e madraça das almas. Mas não conseguia abrir os olhos. Pesavam-me as pálpebras cansadas,