A noite permanecia tão escura como misteriosa, o nevoeiro tão denso como uniforme, propiciando o surgir de todo o tipo de receios, medos e alarmes. Mais do que a visão assustadora de uma catástrofe eminente ou a face terrifica de um malfeitor como os que havia deixado para trás ou mesmo o galope temível de um animal, era a ausência de qualquer estímulo sensorial que o deixava, a princípio, incomodado e, pouco depois, e em crescendo, atemorizado. Se nada fizesse, entraria em breve num estado paranóico, condição psíquica contraproducente ao desígnio que o movia. O facto de nada ver, nada ouvir, não sentir sequer o fresco da noite na face ou do nevoeiro nos ombros, afectavam-no pela primeira vez. Sentia-se perdido e desperado e olhava e farejava e palpava em volta por referenciais, pistas, alarmantes que fossem, que lhe tirassem da alma a sensação de estar sozinho no mundo. Mais do que um tremor de terra, um assassino com um machado em riste ou um leão correndo para mim de boca aberta, er