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A mostrar mensagens de agosto, 2011

Haverá lições a reter da vida? Pode aprender-se com o passado? Quem são os que olham para trás e temperam decisões com memórias? –10–

A noite permanecia tão escura como misteriosa, o nevoeiro tão denso como uniforme, propiciando o surgir de todo o tipo de receios, medos e alarmes. Mais do que a visão assustadora de uma catástrofe eminente ou a face terrifica de um malfeitor como os que havia deixado para trás ou mesmo o galope temível de um animal, era a ausência de qualquer estímulo sensorial que o deixava, a princípio, incomodado e, pouco depois, e em crescendo, atemorizado. Se nada fizesse, entraria em breve num estado paranóico, condição psíquica contraproducente ao desígnio que o movia. O facto de nada ver, nada ouvir, não sentir sequer o fresco da noite na face ou do nevoeiro nos ombros, afectavam-no pela primeira vez. Sentia-se perdido e desperado e olhava e farejava e palpava em volta por referenciais, pistas, alarmantes que fossem, que lhe tirassem da alma a sensação de estar sozinho no mundo. Mais do que um tremor de terra, um assassino com um machado em riste ou um leão correndo para mim de boca aberta, er

O Guardador de Porquês

Jacinto guardava os porquês que encontrava nas pessoas nos acontecimentos nos dias e nas noites. Dominava a magia de ver para lá do óbvio e do circunstancial apresentando-se-lhe o porquê das coisas de forma tão clara e linear como ao mago é simples agitar lenços e deles fazer surgir brancas pombas que voando espantam a assistência. Como se não fosse suficiente tamanho dom Jacinto era capaz de neles pegar e guardar catalogados num frasco de fino cristal que trazia consigo. Tão fino e delicado era o cristal que tudo deixava passar sem mácula de distorção provocada por espessura ou concavidade irregulares. Tão pequeno era que nele tudo cabia sem que nada se perdesse num canto escuro ou numa gaveta emperrada. Os porquês aí guardados davam a Jacinto um á-vontade e postura únicos entre os homens. Tamanha biblioteca em conjunto com os porquês dos que o rodeavam e os seus próprios porquês desvendados permitiam-lhe ver mais longe e entender o que para outros não passava de extemporaneidade ou s