É no nicho mais pequeno, pouco mais que gota de veneno, que está o António que é santo feito de pau mas não de pau feito, pois diz-se que nem em vida lhe deu dito efeito. Ajoelha-se a penitente em pranto e pede ao santo que lhe dê o pouco que lhe saiba a tanto; basta que ele olhe para ela quando passa, nua, à sua porta e que não lhe ponha cara torta de quem vê e desdenha, que um dia sua vida terá resenha em livro de história, estará presente na memória dos que ali viveram e disseram: ai a Ermelinda, nem santo António lhe valeu, tanto pediu e o amor não lhe aconteceu; a vizinha que é nova no bairro e desconhece a tragédia, troca as voltas e toma-a pela galdéria que lá vivia e fugiu com o marido da interlocutora; os socos servem para calçar e atirar à cabeça, pois seja; já outra se ajoelha e também pede, mas não amor, desse já tem quem lho dê com fartura; esse que amor lhe deu, bebeu e agora paga a factura: está doente e a morrer, tão mal que mais um dia é notícia de jornal que se fecha