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A mostrar mensagens de outubro, 2010

É espinho no flanco

É espinho no flanco Uma bofetada na cara É noite em branco Uma dor que não pára É um pé na poça Outro espetado na lama É frio que roça Tempo a mais na cama É caca caindo Caca de cão espalhada É o ar fugindo da garganta esganada É ansear o abismo A vontade de desligar É acordar num sismo A vida quase a acabar É amor que se testa Subida com inclinação É o dia que não presta Dor aperta o coração É a noite tão fria A manhã que não vem É a alma vazia A mesa sem ninguém É comer sozinho Dormir no meio da praça É o velho caminho Dizer piada sem graça É maçã estragada Peixe que cheira mal É flor arrancada Cérebro vegetal É o fugir da vida Por dedos partidos É arma escondida Dando tiros perdidos É cão que morde 15 minutos de fama É sol que se esconde É a lama é a lama É o erro fatal que sempre se chora É apodo do mal Foge de quem adora …continua

É no nicho mais pequeno, pouco mais que gota de veneno

É no nicho mais pequeno, pouco mais que gota de veneno, que está o António que é santo feito de pau mas não de pau feito, pois diz-se que nem em vida lhe deu dito efeito. Ajoelha-se a penitente em pranto e pede ao santo que lhe dê o pouco que lhe saiba a tanto; basta que ele olhe para ela quando passa, nua, à sua porta e que não lhe ponha cara torta de quem vê e desdenha, que um dia sua vida terá resenha em livro de história, estará presente na memória dos que ali viveram e disseram: ai a Ermelinda, nem santo António lhe valeu, tanto pediu e o amor não lhe aconteceu; a vizinha que é nova no bairro e desconhece a tragédia, troca as voltas e toma-a pela galdéria que lá vivia e fugiu com o marido da interlocutora; os socos servem para calçar e atirar à cabeça, pois seja; já outra se ajoelha e também pede, mas não amor, desse já tem quem lho dê com fartura; esse que amor lhe deu, bebeu e agora paga a factura: está doente e a morrer, tão mal que mais um dia é notícia de jornal que se fecha