Em 1919, um cozinheiro do hotel Ritz de Paris tenta, em vão, participar na conferência onde se debatia a criação da Sociedade das Nações, apresentando uma proposta para a autodeterminação do povo.
Sonho descobrir um lugar que conheço há muito, muito tempo; Um sítio onde não tenho idade, porque tem piedade o tempo que a cada minuto arranca o fulgor da juventude encarcerada na mente enlevada, não importa o que aconteça, sem que se meça, ou se mande medir, os contornos dos actos e as suas sombras no porvir; Um lugar onde as magnólias estão sempre em flor, onde nunca está frio nem nunca está calor, onde, como um rio que corre para cima como o amor, não há dor nem louvor, somente o clamor da calma que pela alma vai desfiando um fluir soprando uma paz borbulhando; sento-me na relva; Numa clareira no meio da selva, verde refrigério do caminhante errante que se perde e ali se reencontra e lava a sua dor, come laranjas de sua cor, em laranjeiras bordando as franjas em redor, para lá da selva verde; Os gatos fisgam melros, saltam-lhes furtivos após rastejares esquivos, tirando as garras da doçura das patas fofas e eles fogem, não os gatos, os melros coitados, alam com estridor, fo
Enquanto descia a escadaria, olhava os pés. Ora o esquerdo; ora o direito. E se o pé esquerdo lhe parecia um pé esquerdo –como o direito lhe parecia esquerdo quando se olhava nua ao espelho, chegando o olhar aos pés como que em fim de viagem, iniciada nos olhos e com passagem pela púbis desértica– e se o pé esquerdo lhe parecia um pé esquerdo, o pé direito não lhe parecia um pé direito. Inicialmente procurou não pensar nisso. Depois optou por não olhar para os pés, sobretudo o direito –tal como fazia com o peito, que nunca o olhava desnudo por ter uma ligeira assimetria, sendo isso razão para apenas o olhar quando o peito já se encontrava acomodado no soutien– mas logo apossou-se dela uma sensação que, em crescendo, começou pela estranheza e culminou na repulsa. O seu pé direito não lhe parecia um pé direito. Tão pouco já lhe parecia um pé esquerdo visto pelo viés do espelho. Continuava a descer as escadas e o seu pé era, a cada passo, cada vez menos seu. Quem lhe terá trocado o pé dir
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