O Orbitador

A 12 de abril de 1981 o maravilhoso Eurico da Fonseca comentava o início do que seria uma das maiores aventuras e desventuras da história do século XX. Fazia-o com a solidez dum conhecimento adquirido através da perdida arte de estudar afincadamente e consolidado pela experiência e trabalho; a par, uma voz invulgarmente clara e sonante para quem não era profissional da voz e um domínio da língua materna robustecida pela leitura dos clássicos. Um senhor!

Os comentários apocalípticos ficariam a cargo da Adelina, prima solteirona do meu pai e inesgotável fornecedora de já então velhos fascículos d'O Mosquito que, 30 anos volvidos, guardo escrupulosamente numa caixa, permitindo apenas relances a filhos e visitas da casa.

Era o dia do lançamento do Orbitador, o Space Shuttle Columbia. Estava bom em Cabo Canaveral, tempo limpo e quieto. Em voz de filme, a contagem decrescente foi levada a termo e a pesada máquina libertou-se, pesadamente da Terra.

Observei tudo em silêncio reverente e com o coração batendo forte no meu peito. Queira saltar do muro do jardim, por cima das pereiras e aterrar para lá da casa, em Cabo Canaveral e acenar aos astronautas; queria estar no Orbitador com eles, sentir a máquina vibrar como uma carroça velha numa velha estrada de terra batida. Salvaram-me os salgadinhos da Adelina e o sumol, consolo terreno do menino que queria ser astronauta.

30 anos depois, termina a 20 de julho de 2011, a saga do Orbitador. Termina não sem percalços, não sem lagrimas nem dor. Completou-se no Kennedy Space Center um passo marcante numa caminhada que nos levará às estrelas e para lá.

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