Aquela manhã era o prolongamento do sonho da noite. Mal tinha começado e já estava bem desperto e cheio de fome, atravessando os campos entre a minha casa e a casa dos meus avós, antecipando o pequeno almoço. Uma espessa névoa repousava sobre os campos, mística, densa, permitindo ao sol apenas uma réstia da sua grandeza, um começo humilde para, mais tarde, se tornar ingente. Das hortaliças pingavam gotas de água em camarinhas. A vinha, ao fundo, coberta de gotas, quase cintilava. Do lado oposto, os limoeiros e as laranjeiras tilintavam num gotejar incessante da água que se desprendia das folhas e caía no chão fresco ou rolava pelos frutos ao encontro de mais água. Onde a torrentezinha se adensava, pequenas poças se formavam, acolhendo gotas e mais gotas. Os meus passos chapinhavam pelo carreiro ensopado. Nada via para além de mim. Apenas adivinhava as hortaliças, a vinha ainda sem frutos, os limoeiros carregados à força de sábia paulada da mãe e as laranjeiras carregadas graças à poda